quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sinestesia Etilica

Derradeira noite que se faz de muda
Cama fria, gelada, obtusa
Bordeaux, velas, cigarros e vultos
E o corpo entregue ao quarto, desnudo

Vazio que nao se busca
Olhos que assombram o espelho
Sorriso que nao quer sair de dentro
Falso
Tanta vida,
e a mesma vontade de permanecer reclusa

Mergulhada em si
Afoga-se em incongruencias projetadas
A fim de nao redescobrir a unica e velha questao
Fuga sempre perdoavel
Sentimento que nao ha maneira de ser palpavel
Chafurdar nela propria
Ocasionando um bel e confortavel estrago

Nao tem que se limpar das lamurias
Nem de se absolver das quase-angustias
A unica tentativa plausivel de se embriagar com venenos verbais
é estremecer as bases, resultando em quedas livres

                                                                                  Estreitando em minusculas.  





    

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vago Vulto II

                As vezes eu tenho vontade de ir embora de mim
                Pra um lugar onde eu nao me conheça


                                                         So para ver se encontro 
                                                         Uma maneira onde o tudo 
                                                         Como um todo 
                                                                                 desapareça. 








                                                                        

sábado, 20 de novembro de 2010

Agua de beber

Postando com medo, quase um mes depois de ter sido escrito.
E aviso que esta péssimo.


________________________________________________________




Pois sim, 23 de outubro de mais um ano.
Do segundo, mais precisamente.
Nao sei ao certo o fatidico dia , mas decidi que hoje tiraria o resto das horas para relembrar
os bons dias que se antecederam até o tilintar do sino da meia-noite.
Ainda falta muito, sao 2:14 da madrugada. O sabado so esta começando.
 Vou me abster de citar teu nome, que ecooa na minha cabeça pensante, e me toma pelo menos
uma duzia de minutos diariamente.
Mas, nao me poupo de usar teus detalhes que tem moradia eterna em minha memoria.
Pronunciarei sobre teus cilios, que me faziam cocegas em torridas tardes de domingo, ao som
do toca-fitas que ja nem existe mais, ao menos aos nossos olhos.
E também de tuas pintinhas, que eu contava depois de te desnudar.
Teus pelos que ja estiveram colados aos meus com aquele cheiro que so era sentido pelas nossas vias ofegantes.
Lembrarei de tuas palidas maos me tateando como quem explora um novo caminho, recém-descoberto,
implorando pela merecida demarcaçao, de posse.
Posse concedida, posse destinada.
Nao teria como negar algo que ja o pertencia, sobretudo exercitando mesmo sem saber
o desapego postumamente consolidado.
Dos joelhos ralados também por motivos estranhos, procurando desesperadamente
o feiche do meu brinco de madreperola, de origem duvidosa.
Das vezes que tua boca socorria à minha, num intuito de calarmos aquele silencio, do tipo que é tao
mudo que se chegava a ouvir barulhos estrondosos.
A maneira em que tuas pernas confusas imobilizavam as minhas,
para que estas nao andassem sozinhas e mais atordoadas ainda, sem as tuas.
O jeito que so voce sabia pedir para eu pousar minhas maos docemente aflitas sobre teus cabelos negros,
ansiosos pelo meu cafuné.
Do teu nariz que percorria e sabia identificar cada fragrancia que meu corpo exalava por estar junto ao
teu.
E os teus braços longos que me acolhia nas noites que eu acordava esbaforida de um sonho ruim ou de
qualquer outra insegurança que eu pudesse sentir.
A barba por fazer que eu me fazia arranhar quando grudava meu rosto ao teu, pelas manhas de tantas
e tantas semanas.
Das tuas costas largas que eu me apoiava para ler um trecho de "Morangos Mofados", que voce me deu
de presente, sem fazer a dedicatoria que eu insistia que voce fizesse.
Daquele teu particular movimento repetitivo e incansavel, ora pra frente, ora pra tras.
E os teus erros de portugues nas cartas que me escreveu
das quais levarei comigo junto com todos os meus outros dias que virao.
Dos dialogos noturnos e por vezes, etilicos
sobre nossas eternas divagaçoes sobre "o mundo enquanto ser humano, à nivel de pessoa".
Dos teus pés que estiveram pertinho dos meus e que agora caminham em outra direçao.

Me pergunto se um dia estes mesmos pés se encontrarao, para poder partilhar de uma mesma trilha.
Ainda que esta trilha se bifurque novamente.


Por vezes, sinto teu lacrimejar brotando dos meus olhos caidos, que tanto velou tuas noites dormidas.


. . .


Nem sei se deveria estar pensando e registrando tais facetas.
Embora isso me faça sentir alguns instantes de falso alivio.

Soa brega, eu sei.
Mas é algo que precisava ser dito e compartilhado.
Nao sei como concluir escritos assim.
Talvez seja porque "subconsciente" eu esteja aguardando um sinal qualquer...




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Yeux larmoyants

Eu.
Um paradoxo entre minha razao e minhas circustancias.
Quisera ter dito o que deveria ter sido dito mesmo naquela ocasiao.
Mas, nao.
Era melhor estrangular as proprias palavras e soltar um "Voce que sabe".
Soava mais arbitrario, dando a ideia de que deixei uma escolha.
Ele, ressabiado pela minha falsa complacencia, quis ir embora.
Porém, dessa vez suas pernas o traiu.
O olhar de quem quer fuzilar estava abarrancado em meu decote, que o engolia.
Depois de tantas frases incertas, ja nao sabia se era certo se poderia mergulhar outras coisas além de seus olhos por ali.
Nem me importei por mais uma noite sem companhia.
Virei-me, como aquela que nao esta se incomodando com uma situaçao constragendora e decisiva.
Mas senti uma mao em meu braço e uma voz quase falhada dizendo "restez ici, s'il vous plaît".
E so pelo s'il vous plaît, fiquei.
Isso de poder dizer que era como um favor mesmo, me instigou.
Marejado, aquele par de olhos esfomeados me suplicavam uma explicaçao pela minha cafagestagem.
Embora os mesmos ja soubessem que nao teria nenhuma plausivel.
Foi o que foi e pronto.
Ja estava feito.
O fato do meu nao arrependimento era o que o machucava.
Mas estava bem claro, desde o inicio.
"Das cadelas que nao tem dono, que nao obedecem."
Frase de praxe, pra quem eu sentia de primeiro contato que nao me doaria por inteiro.
Tenho dessas coisas, de saber se vou ser de alguém ou nao.
Ele pensava que eu poderia estar enganada.
Mas como alguém além de mim poderia saber que portaria meus sentimentos?
Engano o meu.
Reparei naqueles labios estremecidos e na tremedeira das canelas que eu ja pertencia àquele ser indulgente.
Pelo menos por uns dias.
Isso de "pra sempre" era tempo demais.
Sou vulneravel, declaro.
Permiti que eu me envolvesse sem pudores e sem ruidos de vozes, por aquele instante.
"Va, me queres? entao possua-me aqui na frente dessa via publica, agora."
 De um tenro abraço, mudo, fui tomada por uma indizivel sensaçao, daquelas que voce se perde e nao quer se achar.
E depois do silencio, aquele sotaque franco-portugues cantarolando baixinho "te perdoo, por ergueres a mao, por bateres em mim, por rodar exuberante..."      
Jogou baixo, atingiu meu ponto fraco.
  Me fez ficar, presa em mim. E esse "mim" tornara-se "ele".
Junçao.
"So por uns dias", pensei relutante.

Engano o meu.
Improvavel.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

D e s c a r r e g o




Dor.
Melhor que senti-la, é provoca-la.

Noticias de além-mar chegam aos olhos torcidos através de uma janela aberta com status ausente.
Assim. 
Duro e sem mais delongas.
Nada de amaciar antes; nao teria como chacotear depois.
A deixa sem ter onde pisar, rouba-lhe o chao.
 Anuncia-se de subito. 
   
   Ela recebe as breves palavras como um tapa seco na face       
momentaneamente desprotegida.

   

     E desta vez, o tapa nao a agrada.

Sente-se tola.
Mais do que em qualquer outro instante.

Ruboriza.
De raiva.
Por ter se deixado levar por algo nunca tocado ou sentido de fato.

Tansa!, deixou-se dominar por chulas calhordagens disfarçadas de requinte..
.



Quer gritar, 
Embora tudo leva a crer que nao vale a pena despertar os vizinhos com seus berros futeis oriundos de um caso frouxo.
Ja é madrugada. 
E a madrugada a espera como um prefacio de um livro sem fim.

Cigarros acesos e apagados simultaneamente.
Goles generosos de cha.
Sem alcool por hoje.
Ja basta a embriaguez da nudez em que esta vestida.

No fundo ja sabia que nao passaria daquelas despretensiosas bobagens, claro.
Era apenas um apego barato pra embustear a solidao.

Pega-se sorrindo.


Lembra-se que Áries nao a complementa.
Ela deseja o ilimitavel.
Ela quer o flexivel.



Uma ultima homenagem ao malandro?
Esta' certa de que nao a fara'.


O consolo para o nada que estava disfarçado de
rubra cor,
Sera' um cartao-postal que mesmo tendo sido enviado
Nunca chegara'.















sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Convite de (sex)ta-feira

Embotar as mazelas
Fincar unhas em seios brandos
Disfarçar as alheias particulas de submundo
Corar cintilante
Se pintar pra depois se apagar
Botas até os joelhos
Sem dizer nada de muito profundo,
Gesticular.

Reproduzir em falsete
Risos estridentes
Pernas que cruzam
Peitos que arfam
Olhos que se veem e nao se encontram
Apos queixas sublinhadas poder extrair quase que depressa
De forma quase superficial
Apenas algumas gotas de esperma.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ultim'outono

      Um ser

              Dois tempos
        
Vias que se cruzam

          Veias que entopem por excesso
                                                    movimentos

Estopim escasso

Cacos de fado

Rimas sem graça

Falta de cena


Vértebras que se quebram
                                         nao de fragéis

Mas por um pacifico pressagio                          
                                            Talvez, desalentos



Era pra nao soar como poesia
Embora a aurea favorecesse

                                              as cinzas          

                                                                                              ...todavia

soam sinos, soam limbos
Soa o

                             corpo
Que afoito
Chora suor melodioso
Chora secreçoes mal  ditas
                                            - em tardes rubras
          derradeiras
     Estreitadas com fitas


                             Estancar as falaceas                                    

Lograr por meios dubios
              
                                
                               Alcançar quiça,
                      
                                                              vitorioso
                              
 Essa coisa de vida,


                           melancolicas,
                                                sem as cores da Rosa

                                                                 Algumas postumas e falsalegres          
                                                                                                     perspicazes  peripécias

                                                                infinita (s) .






sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Emboscada em terceira pessoa

Doses  exorbitantes  de  lucidez  misturadas  com pitadas de ilicitudes. 
talvez nao seja apenas pra encarar uma desmedida solidao ja esperada  em tais fases.
Quer acreditar que todos passam por isso uma vez na vida, quiça alguns tantos,  até por toda ela.
Sem cessar, nao cansa de esperar o dia que talvez vai sorrir sinceramente em meio a mais outros provaveis que sucederao.
Contudo, sofre antecipadamente por saber que esses dias serao interrompidos pela caotica fatalidade de uma utopia, sendo desnecessario cita-la.
Embora pronunciada diariamente por varios, ela se limitava a dize-la uma vez no mes, se muito.
A palavra oriunda dessa utopia deveria ser adicionada como sinonimo e
 extinta, porém.
Ja que por vezes soa como "azar", mas pelo contrario desta, nao  se atrai consequencias quando dita.
Perambulava quase sempre sem sair do lugar.
Era rotina ficar estatica por horas noturnas, com a cabeça apoiada num vao entre a subconsciencia e o palpavel, movendo apenas os olhos para todos os 360° ao seu redor.
Havia momentos que sentia que a qualquer instante o todo deixaria de ser ausencia de qualquer coisa  pra se tornar  uma lacuna preenchida.
Uma busca infindavel, uma fadiga suplicantemente justa e nada saia de seu ja insuportavel lugar.
Dava movimento ao que podia te-lo, de certo, sempre sustentava; so que o complemento desse movimento era de uma escassez tamanha:  julgava ser fluidez o que faltava.
Nao sentia somente uma imensidao de vacuo dentro de si.
Como num mosaico em que se transformou seu ser interno, desejava um “descolador” de memorias.
Mesmo de vez em quando rezando para ter amnésia, nao recorria à fé como forma de alivio para angustias compreensiveis e sobretudo, humanas;  nem sequer seguia algo que exigisse trocas para depois de uma especie de holocausto, ser submetida a receber supostas recompensas.
Acreditava ser ilusao demais, mesmo iludindo-se por calçadas apos calçadas, experimentando cada sensaçao de poder pisar num chao de sentidos que remetia à porcarias sobrepostas a cada um de nos.
Nem adiantava a recorrer à um navio em qualquer cais de porto, pra qualquer lugar imaginavelmente belo, harmonioso.
A certeza da utopica palavra a fazia crer que tudo é ciclico, nao importando a locomoçao que fizesse.

Aquele cheiro que nunca sentiu, nao saberia se um dia sentiria
Aquele sabor, tao menos.
Um pedaço do mosaico irreal que ela estava certa de que existia, (sem nunca ter tocado) fazia seus pés ralarem naquele chao onde nao se pisa facil.

Desse possivel trisco de mosaico,  nao queria  se desfazer.
Talvez seria esse o motivo de sua nao desistencia;
A outra palavra que embora nao seja utopica,  pensava que nao seria  de bom grado usar,  ja que a considerava  piegas   em demasia.
Restava somente um vestigio sem  classe  que ela corroia dentro de si, sem nunca de fato ter feito  força pra arranca-lo.


Tendo que cumprir mais um horario da vida dita real, acabou-se num ultimo gole de rum e ficou a repetir baixo e pra si mesma diante de um espelho trincado:

-         Ode às traças, ode às traças.






quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Douche Chaude

Havia tempos que a moça nao tinha um bom orgasmo.
A unica maneira de nao se deixar vencer pela luxuria com tantos homens nao tao interessantes que a rodeavam, era praticar o "auto-sexo". Quem nunca?
Cansada de usar seus brinquedos eroticos de todas as maneiras possiveis, recorreu ao tao desfrutavel chuveirinho, que quase todos sabem, provoca contorsoes orgasticas de alto nivel.
Numa tarde qualquer, entrou no banheiro de sua casa, la pelas 3 horas da tarde e ligou o chuveiro.
Banho quente, ducha forte.
Esfrega daqui e dali, aperta de la.
Nao era dificil excita-la, quando mais se tem uma pele macia e sensivel, basta um toque num lugar certo para que se propicie um desejo de atingir um apice deleitoso.
Controlando o jato mais pra quente e bem rijo, direciona o instrumento até o ponto (que muitos conhecem, mas nem todos exploram) e se revira de pé dentro do box, pensando nas mais sujas maneiras de prazer.
De certo alguém faz parte desses devaneios loucos sexuais da moça, apesar da mesma nao assumir, receando uma possivel dominaçao a distancia, assim digamos.
O primeiro orgasmo se aproxima, ela geme, se espreme, segura os gritos pra nao chamar atençao, ja que nao estava sozinha em casa.
O que pensariam dela, ha uma hora daquelas no banheiro a se masturbar?
Estava pouco importando, embora ja nao fosse tao bem vista.
Estoura num gozo que escorre entre fluidos e agua quente, tudo muito calido...
Nao satisfeita, continua com a ferramenta em meio às suas coxas, sentindo dores clitorianas que nao eram suficientes pra faze-la parar.
Sentia-se inchando, latejava afoita e isso fazia com que nao terminasse o ato solitario de se dar prazer.
Quisera ter um certo rapaz ali naquele momento e como nao era possivel, lamentava em meio a gemidos lamuriosos imaginando as maos do mesmo a percorrer seu corpo com um apelo de posse.
Pernas bambas, ja nao se aguentava de pé.
O segundo orgasmo veio, mais intenso e a pobre moça nao pôde deter um gemido alto e por consequencia da fraqueza nas pernas, uma queda que se fez ecoar em todo o apartamento.
Esquecera a porta destrancada, e logo veio seus companheiros perguntando o que havia acontecido, se estava tudo bem.
Aquela feiçao, aquela expressao nao negava...
Nem queria disfarçar, embora aquela cena fosse de fato inevitavelmente constragendora.
Chuveiro arrebentado, banheiro alagado, portas do box desencaixadas, e um sorriso de canto no rosto da moça nua e molhada estendida no tapete do chao.


"Alguém me estende a toalha por gentileza?"

Se antes ja nao a olhavam com bons olhos, a partir desse momento entao, ja fazia parte de alguns pensamentos libidinosos (nao assumidos, porém) e de certo modo "castos", de quem a viu nessa tarde duplamente umida.









sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A personificaçao de uma das faces entre tantas do mal é sem duvida, os mosquitos pernilongos.
Me permito dizer que essas mesmas faces se ofenderao com essa afirmaçao; todavia, ha uma certa assimilaçao equiparavel entre o mal e o incomodo.
Coisas boas trazem consigo uma tonalidade maléfica, sempre. 
Mesmo que sejam em nuances imperceptiveis.
Nao confio em expressoes ou algo que aparentemente sao demasiado benevolentes.

Tem cheiro de vodka barata,
Voce bebe, mas o mau cheiro impregna. 
Afinal, nao se pode negar prazeres que advém de tais agrados.
Oxala!, nao deixa de o ser.
Benevolente sim, reciclavel também.
Degustar para tirar conclusoes (proveitosas ou nem tanto) nao é uma atitude a ser dispensada, penso eu.

O ser humano tem disso,
Liga-se a frase acima em um dito popular - murros em ponta de faca. Por que nao?

Ja que o ciclo vitalicio é de fato vicioso, creio que de uma maneira ou outra, tomaras como atos repetidos, ambiguos de certo, feitos que outrora foram condenados por nos mesmos.
Alguém citou em certa ocasiao (minha memoria me trai) que o tudo e o nada andam de maos dadas,
E' tudo porco comendo do mesmo farelo.
Perdoe-me, caro leitor, ter que recorrer ao uso de ditos populares tao chulos para poder justificar minha transgressao etilica ocasionada por tédios ciclicos...

Estava eu falando dos mosquitos.
Conclui que nao sao de todo maus.
A vodka afasta-os.
Ou (n)os acostumam.

Terei agora de nos comparar, seres mortais, ditos humanos à eles?
. . .

Eles sabem e podem voar, 
Mesmo que tropegos

Quem nao é?

Fealdade seria nos comparar a baratas.
Estas fétidas criaturas nao sao burras, apesar de escatologicas,
Sobressaliento ainda o fato de moscas viverem por 48 horas ditas uteis.

Por quanto tempo util vivemos...?

Para mim, o vacuo é uma plateia.









quinta-feira, 2 de setembro de 2010

l'interno verso l'interno

Ja estava pronta pra me retirar do recinto, ja que o ar estava jocoso por demais a meu ver. Nunca me sentia confortavel em ambientes alegres em excesso, dava-me uma certa agonia, pois sempre via no fundo das cortinas imaginarias uma certa perfidia.
Foi quando que num tropeço, esbarrei naquela coisa em forma de homem, que trajava um perfumado terno xadrez verde-musgo.

- Perdao, eu estava saindo destraida e nao vi que ...
- Imagine, nao tem porque se desculpar. Observando-a de longe, notei que estava entendiada. Permite que eu a leve em algum lugar mais interessante?

Sempre achei estranho essa maneira de abordagem, mas o que me restava além de ir pra cama, sozinha e com surtos insones?

- Sim, mas antes de deixe-me apresentar, sou a ... - interrompendo com seu rosto a menos de um palmo do meu, disse que dispensava esses tipos de apresentaçoes. E completou:

- Nomes sao substantivos que nos deram sem nos preguntar se queriamos. Logo, nao faço questao de saber o seu. Afinal, vai fazer alguma diferença? Somos tantos, somos numeros, somos verbetes que nao possuem classe gramatical listadas em um livro cujo ninguém assinou ou assinarà.

- E como irei te distinguir dos outros que passarem por entre nos? Como te chamarei? Creio que um assobio nao soarà bem para uma pessoa de tal estirpe.

- Saberei como responder ao teu chamado. Nao precisarà pronunciar uma palavra sequer. Nao vais nem ter tempo para isso.

Sem entender muito o que o homem dissera, continuamos a vagar pela noite, rumo àquele lugar que eu nao sabia aonde era, mas que ja me sentia bem antes de chegar. Em meu corpo rondavam sensaçoes agradaveis, num misto de agonia que aguçava minha curiosidade. As palpitaçoes eram inevitaveis, os suores nada implicitos e os rumores internos, entravam em ebuliçao.

- Sem querer ser impertinente, poderia me dizer que lugar é esse que estamos indo?

- De nada adiantaria te dizer. - No mesmo instante, meus olhos perderam a visibilidade.

- Sem panico. Nao adiantaria causa-lo agora.

- Estou estranhamente tranquila. Nada do que preciso tem necessidade de ser visto por olhos que gozam de boa saude.

Sabe-se que ao perder um de seus sentidos, outros aguçam. Todavia, nao esperava que seria tao rapido. Sentia aromas desconhecidos que entravam pelas minhas narinas com um certo alvoroço pra definir cada qual. Nao poderia identifica-los; nao os conhecia. Mas de certo nao ocasionava incomodos em minhas vias nasais agora tao apuradas, apesar da sensaçao de vágado.

A figura que me acompanhava, tornou-se muda, nao me respondia às indagaçoes. Um breve preludio silencioso confirmara sua presença em meio aos cheiros de tudo que nao se ve.

Pensamentos nao faziam sentido.
Sentido, na verdade, o que faz?

Pés, ora suspensos, ora estribados, sentiam como num chao de algodao.
Poderia tocar as cavidades de um céu imaginario, e neste momento, escuto uma voz um tanto carrancuda dizendo,
"O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem - uma corda sobre um abismo.
Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar-para-trás, perigoso arrepiar-se e parar.
Amo aquele que açoita seu deus, porque ama seu deus: pois tem de ir ao fundo pela ira de seu deus.
Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: - mas este é o criador."



Num ultimo suspiro, abri meus olhos miopes, e vi que tudo nao havia passado de um transe adaptado apos um dia exaustivamente ocioso.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vinheta em parolas mal cantadas

 As palavras que pronuncio
 por vezes, sao peculiares
 Nem sempre consigo expressar ao certo o que quero dizer
 isso confunde
 Mas nem por isso faço questao de me corrigir
 

Nao é pra ser completamente "entendivel"
 

Porque até por mim, isso pode ser interpretado 
algum tempo depois
Sobejamente de um novo angulo
 

 As palavras que eu transfiro para o papel se embaralham sem sair do lugar
 e as linhas tortas, tornam-se turvas
 e as curvas que meus pensamentos bizarros vao tomando 

 sem freio
 me levam a abismos que eu me atiro 

 sem defesas 
 E em queda livre

E é nesse instante que agradeço por nao ter asas. 





Bach, Toccata and Fugue in D minor, organ

segunda-feira, 19 de julho de 2010

_____________________

"(...) e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns mas queimam, queimam, queimam, como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante se pode ver um brilho intenso."




(Jack Kerouac, On The Road)

_______________

Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.




Manuel Bandeira

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Notícias - Drummond

Entre mim e os mortos há o mar e os telegramas
Há anos que nenhum navio parte nem chega.
Mas sempre os telegramas frios, duros, sem conforto.
Na praia, e sem poder sair.

Volto, os telegramas vêm comigo.
Não se calam, a casa é pequena para um homem e tantas notícias.
Vejo-te no escuro, cidade enigmática.
Chamas com urgência, estou paralisado.
De ti para mim, apelos, de mim para ti, silêncio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto vocês todos, irmãos sombrios.
No pão, no couro,
na superfície macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados furtivos, mensagens em código.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto ao sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar para onde os telegramas estão chamando.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar.


C.F.A

terça-feira, 27 de abril de 2010

Poemas aos Homens do nosso Tempo

Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Alcoólicas

É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.



Hilda Hilst

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)


C.F.A.