Julho.1980

Tenho a boca afiada de punhais
não choro
olho os faróis com duros olhos
ardidos de quem tem febres
mas não sangro
as mãos vazias deixam passar o vento
lavando os dedos que não se crispam
não há palavras, nem mesmo estas
o único sentido de estar aqui
é apenas estar secamente aqui
cravado como um prego
em plena carne viva da tarde.



(Caio Fernando Abreu)

As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural.


Virginia Woolf

Araras Versáteis

Araras versáteis.
Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.



Hilda Hilst

Por Jonatan Strange

Eu só pedi uma definição de 'pau prático' e ele, meu mais novo amigo de infância, me veio com a seguinte explicação:


- defina: prático:= aquele pau que tem o tamanho entre o standard e o grande, que fica duro fácil, que se mantém rígido por muito tempo, que lateja, que é depilado (pau cabelo é anti-prático), que tem uma boa invergadura, que consegue atingir ângulos pouco ergonômicos.

*a questão do ângulo é importante; tem alguns paus que não conseguem ficar duros fora da perpendicular da linha do corpo, o que impossibilita alguns posições e práticas.


Enfim, bem explicativo e esclarecedor, ñ?

Soneto da donzela ansiosa

Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito.

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrando.

Como é inda boçal, perde os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.


Manuel Maria Barbosa de Bocage (1765-1805)

Vago Vulto

Porra nenhuma que estou inspirada hoje.
Queria escrever alguma coisa que pudesse transparecer o que estou sentindo agora, mas nem sei o que estou realmente sentindo.
Um dos problemas é que as palavras me fogem, escorrem, vagam e acabo por vomitar o nada. Estranho, porque inspiração me vem quando sofro deveras, e nem tô tão feliz assim.
Vontade de sentar e escrever um livro...
Minhas crônicas estão extintas.
Algumas até já foram cassadas.
Poesias que viram música brega, se eu musicá-las.
Argh...
Meus contos não tem final, estão incompletos. Pensei em juntá-los todos e ver no que dá.
Quem sabe terá um final lógico..
Final lógico...
Pra quê cargas d'água os finais tem que ser lógico?
E porquê tem que se chegar num final?
Existe final?
O.o

ªº°°°

Todos deveriam crer que a nossa loucura nada mais é do que o reflexo de uma dualidade cotidiana que insiste camuflada em convencer que nosso ego é mais importante do que qualquer outra coisa, embora negamos esse fato, nos tornando ainda mais egoístas.



Como já dizia o grande Sade..
"Todos os homens são loucos, e quem não quiser ver deve ficar no seu quarto e quebrar os espelhos."

*

...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes.

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Quando o ateísmo quiser mártires, que o diga, o meu sangue está pronto.

[Sade]