quinta-feira, 2 de setembro de 2010

l'interno verso l'interno

Ja estava pronta pra me retirar do recinto, ja que o ar estava jocoso por demais a meu ver. Nunca me sentia confortavel em ambientes alegres em excesso, dava-me uma certa agonia, pois sempre via no fundo das cortinas imaginarias uma certa perfidia.
Foi quando que num tropeço, esbarrei naquela coisa em forma de homem, que trajava um perfumado terno xadrez verde-musgo.

- Perdao, eu estava saindo destraida e nao vi que ...
- Imagine, nao tem porque se desculpar. Observando-a de longe, notei que estava entendiada. Permite que eu a leve em algum lugar mais interessante?

Sempre achei estranho essa maneira de abordagem, mas o que me restava além de ir pra cama, sozinha e com surtos insones?

- Sim, mas antes de deixe-me apresentar, sou a ... - interrompendo com seu rosto a menos de um palmo do meu, disse que dispensava esses tipos de apresentaçoes. E completou:

- Nomes sao substantivos que nos deram sem nos preguntar se queriamos. Logo, nao faço questao de saber o seu. Afinal, vai fazer alguma diferença? Somos tantos, somos numeros, somos verbetes que nao possuem classe gramatical listadas em um livro cujo ninguém assinou ou assinarà.

- E como irei te distinguir dos outros que passarem por entre nos? Como te chamarei? Creio que um assobio nao soarà bem para uma pessoa de tal estirpe.

- Saberei como responder ao teu chamado. Nao precisarà pronunciar uma palavra sequer. Nao vais nem ter tempo para isso.

Sem entender muito o que o homem dissera, continuamos a vagar pela noite, rumo àquele lugar que eu nao sabia aonde era, mas que ja me sentia bem antes de chegar. Em meu corpo rondavam sensaçoes agradaveis, num misto de agonia que aguçava minha curiosidade. As palpitaçoes eram inevitaveis, os suores nada implicitos e os rumores internos, entravam em ebuliçao.

- Sem querer ser impertinente, poderia me dizer que lugar é esse que estamos indo?

- De nada adiantaria te dizer. - No mesmo instante, meus olhos perderam a visibilidade.

- Sem panico. Nao adiantaria causa-lo agora.

- Estou estranhamente tranquila. Nada do que preciso tem necessidade de ser visto por olhos que gozam de boa saude.

Sabe-se que ao perder um de seus sentidos, outros aguçam. Todavia, nao esperava que seria tao rapido. Sentia aromas desconhecidos que entravam pelas minhas narinas com um certo alvoroço pra definir cada qual. Nao poderia identifica-los; nao os conhecia. Mas de certo nao ocasionava incomodos em minhas vias nasais agora tao apuradas, apesar da sensaçao de vágado.

A figura que me acompanhava, tornou-se muda, nao me respondia às indagaçoes. Um breve preludio silencioso confirmara sua presença em meio aos cheiros de tudo que nao se ve.

Pensamentos nao faziam sentido.
Sentido, na verdade, o que faz?

Pés, ora suspensos, ora estribados, sentiam como num chao de algodao.
Poderia tocar as cavidades de um céu imaginario, e neste momento, escuto uma voz um tanto carrancuda dizendo,
"O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem - uma corda sobre um abismo.
Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar-para-trás, perigoso arrepiar-se e parar.
Amo aquele que açoita seu deus, porque ama seu deus: pois tem de ir ao fundo pela ira de seu deus.
Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: - mas este é o criador."



Num ultimo suspiro, abri meus olhos miopes, e vi que tudo nao havia passado de um transe adaptado apos um dia exaustivamente ocioso.



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