quinta-feira, 20 de maio de 2010

Notícias - Drummond

Entre mim e os mortos há o mar e os telegramas
Há anos que nenhum navio parte nem chega.
Mas sempre os telegramas frios, duros, sem conforto.
Na praia, e sem poder sair.

Volto, os telegramas vêm comigo.
Não se calam, a casa é pequena para um homem e tantas notícias.
Vejo-te no escuro, cidade enigmática.
Chamas com urgência, estou paralisado.
De ti para mim, apelos, de mim para ti, silêncio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto vocês todos, irmãos sombrios.
No pão, no couro,
na superfície macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados furtivos, mensagens em código.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto ao sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar para onde os telegramas estão chamando.